Existe fórmula para educar nossas crianças? Até onde o “não” deve ser imposto? Como dar limites quando elas os testam? Dúvidas como estas rondam o imaginário e os receios de vários pais e responsáveis, e foram temática de mais uma reflexão promovida pela psicóloga e professora, Betânia Diniz Gonçalves, na 13ª edição do CIANSP Notícias!
Confira, na íntegra, o artigo da especialista:
Pode não ser trauma
É isso mesmo, pode não ser trauma!
Uma sociedade que predefinia a vida dos sujeitos não deixava margem para escolhas. Mais ou menos assim: filho de peixe, peixinho é. E assim, por gerações a definição da vida estava traçada para ser cumprida. Na sociedade contemporânea não é mais assim, é possível invalidar determinações sociais e fazer escolhas singulares. Para os que têm maiores oportunidades o caminho é menos árduo, mas também há conflitos e dilemas éticos a serem vencidos. Em maior ou menor proporção a escolha se faz para todos. E aí está uma boa questão para ser pensada: pode ou não pode? Quando e como dizer sim ou dizer não às crianças e adolescentes? Quando sustentar o não e quando voltar atrás?
Educar é um desafio, nesse processo não temos a certeza (melhor assim!), temos escolhas que nos responsabilizam em nossos erros e acertos. Algumas experiências vividas não queremos repeti-las, outras foram tão importantes e nos fizeram quem somos e queremos transmiti-las aos que estão sob nossa responsabilidade. Há experiências boas e ruins que mesmo sem perceber as transmitimos às crianças e adolescentes. Repetimos em nossas relações o que nos foi transmitido, por isso é preciso refletir sobre nossas ações às quais nomeamos como educativas.
Quando a criança assimila o “não” passa a usá-lo com frequência. Manifesta-se contrária quando o recebe, mas faz seu uso. Chora, faz birra e não quer ser contrariada. Com adolescentes a ressignificação do “não” é um momento importante em suas vidas. O sentido do “não” assimilado na infância se amplia na adolescência e deixa de ser uma simples repetição, a possibilidade da argumentação confronta o “não” recebido para a construção de pensamentos próprios. Suportar a argumentação dos adolescentes faz você também ampliar seus argumentos.
O “não” limita e permite, é fato! O leito de um rio que se mantem em suas margens traz vida e prosperidade. O rio que transborda traz perdas e prejuízos. A água do rio que é essencial na vida, se fora do curso, pode não atender às necessidades primordiais das pessoas. Crianças e adolescentes sem limites podem não achar espaço para uma boa convivência e isso poderá acarretar prejuízos em suas vidas.
O limite é necessário! Ninguém que não recebeu limites se integra socialmente. Ora os limites são exagerados, violentos. Ora os limites não são colocados, pois não se sabe se poderão acarretar “traumas”. Traumas, marcas, cortes são postos em nossas vidas o tempo todo. A convivência requer enfrentamentos e recuos, sabores e dessabores. Um “não” não colocado na hora certa pode sim ser a fonte de um trauma. Muitas vezes recuamos e não dizemos “não” aos nossos filhos e filhas por não querermos nos responsabilizar por nossas escolhas. A falta de limites pode gerar o trauma imposto em espaços em relação aos quais não temos a gerencia das situações.
Qual a sua intenção quando diz não a uma criança ou adolescente? Como você diz não ao seu filho ou filha? Você sabe diferenciar ações que limitam das que são violentas? Como colocar limites em uma criança ou em um adolescente? Limites não precisam ser traumáticos, se bem aplicados geram vida.
Este conteúdo foi replicado da 13ª edição do CIANSP Notícias, o informativo Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade, e você pode acessá-lo e baixá-lo clicando aqui!